Partilhas de coração, estudos,
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Resolvi trazer para aqui o relato do meu 3º parto que andava perdido na minha página do Facebook. **23/10/2019** Faz hoje 6 anos que esta minha família ficou completa. Nos últimos dias andei imersa em memórias e recordações das últimas semanas dessa 3° gravidez. Semanas atribuladas, com muitos desafios e muita incerteza mas também muita determinação e sobretudo aceitação do que estivesse para vir. Tanto que invoquei a lua e os elementos, tanto que pedi que a Natureza se manifestasse que naquele dia mágico, a 23 de Outubro de 2013, depois de uma longa espera pelo início do tp ativo, e sem grande planeamento, tudo se foi alinhando como tinha que ser. O meu núcleo duro de mulheres-deusas, mulheres-bruxas, foi chegando para ficar, aquelas que eu necessitava e cuja presença me transmitiu tanta força e segurança. A Ana Rita, que com a sua intuição me curou da anemia com acupuntura, horas antes do início do tp, o que me permitiu permanecer em casa de forma segura; a Ana Falé, com a sabedoria do yoga e a sua voz doce e bem colocada, a quem pedi que me lesse palavras de força e incentivo quando eu já não conseguia levantar a cabeça com a intensidade das contrações; a Luísa Condeço, minha irmã de caminho e Doula para a vida toda, cuja mão forte, que tanto apertei, e as palavras assertivas me levavam de novo ao meu centro sempre que necessário; a Ana Ramos, minha parteira querida, que cuidou sempre de nós em todo o processo da gravidez e parto, com todo o carinho, respeito e segurança, sempre vigilante e atenta; a Lieve Tobback , com a sua objectiva para registar todos os momentos para a posterioridade. O meu amor Paulo que me soube dar o espaço que eu precisava e ocupar o que lhe pertencia enquanto pai; O meu filho Alexandre e a minha filha Sara que, sendo crianças tão pequenas, perceberam a naturalidade dos acontecimentos e permaneceram calmos e serenos durante todo o tempo. E assim, com todas as condições, rodeada de amor, eu pude ser mulher-árvore, como a Ana Falé me desenhou, pude ser mulher-loba, pude ser rainha e dona do meu parto sem barreiras nem restrições. E no período expulsivo em que as dúvidas me assolaram e coloquei tudo em causa - se seria capaz, se teria força, se não estaria a demorar muito -, nesse momento mais mulheres se juntaram, as minhas ancestrais, as que pariram antes de mim, elas vieram juntar-se a mim em círculo e tocaram e cantaram convidando um novo ser a vir ao mundo. Quando as vi ali à minha frente soube de imediato que se elas foram capazes, eu também seria. Foi como se as ouvisse, como se me estivessem a dizer o que precisava fazer, e o que é certo é que não precisei fazer mais nada, não fiz força, apenas permiti, e permitir já é fazer muito. Senti os pezinhos da minha filha a empurrar dentro de mim, a sua cabecinha e o seu corpinho a descerem devagar, apenas com o movimento das contrações. Foi mágico. "Tens aqui a tua filha", disse-me a Ana. E colocar esta filha ao colo pela primeira vez, depois deste trabalho em conjunto, que foi meu mas também foi dela, senti-la tão agarradinha a mim...ainda hoje não tenho palavras suficientes para descrever o sentimento de plenitude e de realização profunda. Morri e renasci mais uma vez, pela 3° vez. Todas diferentes, todas belas, cada uma com a sua beleza e uma descoberta nova. Foi realmente mágico e sou imensamente grata por a Inês ter escolhido nascer nesta família e me ter escolhido como sua mãe. Agradeço à vida por esta experiência maravilhosa e por aqueles que em amor a partilharam comigo. Fechou-se um ciclo.
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**29/08/2020** Faz hoje 12 anos que fiz nascer a minha filha, que a recebi de dentro de mim com as minhas próprias mãos. Foi na madrugada de 29 de Agosto, uma noite quente de verão, depois de umas poucas horas de trabalho de parto ativo passadas à janela. Mas a história deste parto começou bem antes. No dia 1 de Agosto, estava com 38 semanas, comecei com contrações e pensei que este bebé ia nascer mesmo no dia mundial da amamentação. Tão giro! Só que não. Passadas umas horas as contrações pararam. E a partir daí voltaram todos os dias pela mesma hora e todos os dias eu pensava "é hoje", mas nunca era. Eu fazia caminhadas, subia e descia escadas e nada. As contrações paravam ao fim de umas horas. Chegámos a dia 28, e quando as contrações voltaram nesse dia pensei que ia ser mais um dia igual aos outros. Mas não foi porque nesse dia não pararam. Pelas 23h rebentaram as águas, comigo sentada na bola de pilates, mesmo no meio da sala. Era mais um sinal que tudo estava bem encaminhado. Pouco depois chegaram a doula e a parteira. A equipa estava completa. 💞 Lembro-me de eu e o Paulo termos dado um longo beijo daqueles que fazem subir a oxitocina. Logo depois veio uma contração mais forte. Comecei a desligar do mundo exterior e a ir cada vez mais para a partolândia. Sempre de pé, apoiada no parapeito, janela aberta, a sentir todos os cheiros daquela noite maravilhosa, a ouvir todos os sons que vinham do exterior - um comboio ao longe, o mugir das vacas. Não suportava que ninguém me tocasse ou falasse para mim. E tive mesmo que mandar calar alguém. 😆 Entretanto as contrações pararam e comecei a sentir vontade de fazer força. Nem queria acreditar, tinha passado tão pouco tempo. Coloquei-a no mundo com toda a força que tinha, porque naquela época eu ainda não sabia que não precisava fazer força. Parir de pé foi a minha escolha, que não foi bem uma escolha consciente mas antes a posição que o meu corpo adotou naquele momento. Um corpo sábio que sabe que para parir 4,5kg de gente é melhor contar com a ajuda da gravidade. Que sensação maravilhosa, que momento poderoso e curador sentir o seu corpinho quente e húmido entre as minhas pernas e trazê-lo para o meu colo. A minha filha Sara, com a sua chegada, trouxe-me a cura do parto do irmão e mostrou-me que eu era capaz. Trouxe-me o desejo de ser Doula e apoiar outras mulheres na caminhada da maternidade. Trouxe-me muito mais, como a capacidade de aceitar e trabalhar tantas coisas em mim que vejo espelhadas nela. Há 12 anos renasci mais uma vez no nascimento da minha filha. Grata de coração às minhas queridas parteira Ana Ramos e doula Luísa Condeço por estarem lá, por me darem aquele espaço de segurança, por cuidarem de mim com tanto amor e respeito. Sem vocês não teria sido possível. ❤️ Um estudo de 2013 mostra que o consumo de 6 tâmaras diárias a partir da 36ª semana de gravidez reduz o tempo de trabalho de parto e reduz a necessidade de oxitocina sintética para aceleração do trabalho de parto.
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Lídia de Matos
Doula e educadora perinatal, conselheira em aleitamento materno Histórico
Maio 2021
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